Cinerama - Para evitar reflexos de luz, a tela Cinerama era formada por tiras de plástico vertical, como uma persiana. No modelo: 1. Cabine de projeção para o lado direito da tela. 2. Cabine de projeção para o centro. 3. Cabine de projeção para o lado esquerdo da tela. 4. Poltronas. 5. Cabine de controle principal. 6. Tela curva. 7. Amplificador de som. Foto: Divulgação.
Comparação de película 35 mm na chamada projeção “plana”,
outra tipo “panorâmica”, e a película 70 mm,
que resultava em projeções mais claras e quase sem granulação em telas muito grandes.
Foto: Acervo pessoal.
The Robe - Cartaz do primeiro filme em cinemascope:
O manto sagrado. Foto: Acervo pessoal
Publicado originalmente no site da Revista Ideias, em 5 de janeiro de 2016.
A tela grande.
Por José Augusto Jensen.
Nos Estados Unidos a popularização da televisão nos anos
1950 levou os estúdios a pensarem em telas maiores, terceira dimensão,
produções grandiosas, tentando refrear a queda de público nos cinemas. Aqui em
Curitiba já se ouvia falar do aparelho, mas as transmissões só foram iniciadas
timidamente em 1960 com poucos aparelhos, que eram muito caros, e uma
programação primária. Mas os filmes começavam a vir nos novos formatos, e os
cinemas tiveram que aumentar as telas. Assim que vieram, primeiro, as telas
“panorâmicas”, em que o quadro do filme era ceifado em cima e abaixo e
projetado com lente que aumentava a projeção, tornando a tela pouco mais larga.
O primeiro foi o cine Ópera, com o filme O veleiro da aventura (Plymouth
adventure), com Spencer Tracy, Gene Tierney, direção de Clarence Brown,
produção MGM de 1952, em 28 de janeiro de 1954. Os demais mexeram nas suas
telas. Também lançou a terceira dimensão um curta-metragem, em 25 de fevereiro,
com o uso de óculos descartáveis. O Avenida, neste mesmo ano, também lançou
alguns filmes e complementos em 3D, e embora despertassem grande curiosidade,
os filmes neste sistema não pegaram, com algumas tentativas isoladas nos anos
seguintes.
A 20th Century Fox, vendo o sucesso do Cinerama em Nova
York, sistema que utilizava três projetores simultâneos em uma tela curva,
abrangendo todo o campo de visão humana, porém muito complicado e caro,
resolveu lançar o sistema Cinemascope. Consistia no mesmo filme 35 mm de uso
comum, em que as imagens eram comprimidas na filmagem e expandidas na projeção,
com o uso de lentes anamórficas. A proporção largura x altura de 2,55 x 1,
muito mais larga, criou problemas para acomodar as enormes telas em alguns
cinemas. O cine Ópera mais uma vez foi o primeiro, e também o mais prejudicado,
pois os enfeites laterais, o palco, a linda cortina, foi tudo retirado, pois
era exigido mais espaço nas laterais para acomodar a nova tela. Permaneceu
fechado por três dias, e em 28 de outubro de 1954 lançou com som Perspecta
(três caixas de som distribuídas atrás da tela, outra novidade) o musical Rose
Marie, com Ann Blyt, Howard Keel, direção Mervyn Leroy, MGM, produção do mesmo
ano.
O cine Avenida inaugurou o seu Cinemascope cinco meses após,
porém com som estereofônico de quatro canais, três na tela e um em caixas
espalhadas pelo auditório, semelhante ao que temos até hoje. O filme foi o
primeiro produzido neste processo: O Manto sagrado (The Robe) com Richard
Burton, Jean Simmons, Victor Mature, direção Henry Koster, produção Fox de
1953. Os curitibanos ficaram maravilhados com mais esta novidade,
impressionados com a projeção e o som, pois não se conhecia a reprodução
estereofônica em multicanais, e com grande fidelidade.
Os demais cinemas tiveram que adaptar suas telas, mas, por
economia e disponibilidade de cópias, projetavam os filmes com som em apenas um
canal, monaural. O cine Arlequim, situado no Largo Frederico Faria de Oliveira,
também teve seu equipamento estereofônico, que depois foi transferido para o
cine São João, na Rua Des. Westphalen, inaugurado em 28 de setembro de 1960, e
que passou a exibir superproduções como Ben-Hur, e Doutor Jivago com som muito
bom em quatro canais.
Estas produções em cinemascope serviram de motivo para
aumentar o preço dos ingressos, o que gerou protestos, principalmente dos
estudantes, muito articulados na época. Quando o cine Palácio exibiu Assim
caminha a humanidade (Giant), que além do processo era de longa metragem (201
min, portanto menos sessões ao dia) e aumentou o preço, houve protestos na
frente do cinema, impedindo a entrada dos espectadores. Os líderes: Rafael
Iatauro, depois conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, e José Richa, pai
do atual governador. O gerente e seus auxiliares tentavam desimpedir o acesso
para o público, discussões, brigas, e então os estudantes iniciaram a fila
boba: formavam a fila e quando chegavam na bilheteria, perguntavam o preço, não
compravam o ingresso, retornando ao fim da fila e assim por diante. Voltou ao
preço normal!
Final dos anos 1960 surgiu outro melhoramento considerável:
o cine Vitória, inaugurado em 1963, na Rua Barão do Rio Branco, trocou seus
projetores 35 mm por 70 mm e compatíveis com 35, projeção magnífica, som com
seis canais, cinco na tela e um em caixas pelo auditório, parecido com o
surround de hoje. Também substituiu a tela, muito maior e levemente curvada,
pegando toda a boca do palco. A inauguração foi com o documentário Isto é
cinerama, copiado para o 70 mm, que substituiu o de três projetores no mundo
todo, mais confiável, barato e fácil de operar.
Bitolas.
Porém, as cópias neste processo nem sempre chegavam por
aqui, e vimos muitos filmes, reduzidos para 35 mm em cinemascope. Inesquecível
a exibição de 2001 Uma odisséia no espaço, com Keir Dulea, direção de Stanley
Kubrick, produção MGM de 1968, nesta maravilhosa projeção de nitidez e
claridade como nunca mais vi. Mais tarde o cine Condor, na esquina das ruas
Cruz Machado e Ébano Pereira, inaugurado em 10 de janeiro de 1971, mil
poltronas, com projetores 70 mm compatíveis com 35 mm, apresentou muitos filmes
nesta bitola maior, inclusive uma reprise de 2001. Realmente o “cinema
espetáculo”.
Este processo, com diretores como David Lean, possibilitou a
realização de filmes como Lawrence da Arábia, com Peter O’Toole, Omar Shariff, Columbia,
1960. Criado e magnificamente fotografado para a tela grande, é cinema
grandioso, para encher os olhos e ouvidos, um show de beleza. Jamais pode ser
visto em telinhas e sonzinhos. A cena em que o personagem de Omar Shariff é
apresentado, a princípio como um pontinho ínfimo na imensidão do deserto, até o
primeiro plano, é puro prazer para os sentidos. Recebeu sete Oscars. Foi a
época das superproduções.
Hoje, com o cinema digital, algo parecido com a projeção em
70 mm, e claro, com recursos muito mais modernos, é o sistema IMAX, que em
Curitiba temos uma das poucas salas na América do Sul. É um sistema canadense,
com projeção de altíssima definição, som puro e de alta potência. Na sala, a
tela enorme côncava, a colocação das poltronas, tudo conforme a especificação
dos engenheiros da empresa. Quando o filme não é produzido em IMAX, é
remasterizado no processo para ser exibido. No exterior eles têm um viés
cultural, pois além das produções blockbusters, exibem documentários muito
bons, com ênfase na natureza, com fotografia primorosa. Aqui desistiram, pois
não deu público.
Equipamentos e processos continuam sendo aperfeiçoados, e
tenho dúvidas se o cinema digital é uma melhoria, mas até hoje nada mais
apareceu que tenha alterado substancialmente nossa maneira de ver filmes. Mesmo
o 3D, que como vimos, não é nenhuma novidade, já está cansando, deixou de ser
chamariz para o público, como já acontecera nos anos 1950. Para os exibidores,
o melhor aperfeiçoamento tecnológico do cinema, após o advento do som, foi o
porta-copos nas poltronas, que aumentou seus rendimentos, mais que a renda do
filme exibido.
Texto e imagens reproduzidos do site: revistaideias.com.br
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