segunda-feira, 3 de julho de 2017

François Truffaut.



François Truffaut.

“Eis por que sou o mais feliz dos homens: realizo meus sonhos e sou pago para isso, sou diretor de cinema.”

Truffaut é um ícone da paixão ao cinema, não só pelos seus filmes e textos, mas sua própria vida foi um manifesto de amor a essa arte. De certa forma, a imagem de Truffaut representa um sentimento que perpassava pela Nouvelle Vague e pelos cinéfilos desse período: um fervor e uma dedicação quase maníacos, salvos exclusivamente pelo prazer e alegria com a qual o cinema os recompensava.

Truffaut teve uma infância difícil. Rejeitado pela mãe, foi criado pelos seus avós maternos, quando teve o primeiro contato com a arte graças a sua avó, no entanto, com a morte dessa, voltou a casa da mãe, onde era extremamente mal-tratado. Foi naqueles anos que Truffaut descobriu o cinema. O prazer que sentia assistindo aos filmes era tanto que o menino matava aulas e cometia pequenos delitos em nome dessa paixão.

 “Assisti a meus duzentos primeiros filmes na clandestinidade, fazendo gazeta, entrando no cinema sem pagar – pela saída de emergância ou pela janela dos banheiros – ou ainda, à noite, valendo-me da ausência de meus pais e tendo de estar noamente na cama, fingindo dormir, quando voltavam. Assim, paava esse grande prazer com fortes dores de barriga, estômago embrulhado e eterno medo, invadido por uma sensação de culpa que só se acrescentava às emoções proporcionadas pelo espetáculo.”

  Aos 14 anos, Truffaut foge de casa e sua vida passa a ter uma série de reviravoltas, vivia de forma obscura e realizando pequenos furtos. Seu fervor cinéfilo, no entanto, é persistente, ele monta um cineclube, conhece André Bazin e torna-se um autoditada (tinha metas de assistir a três filmes por dia e ler três livros por semana, foi assim que aos 22 anos Truffaut teria visto mais de 2 mil filmes), iniciando aos poucos sua carreira como crítico.

 “Desde aquele dia de 1948 em que me proporcionou meu primeiro trabalho interessante – ou seja, ligado ao cinema – no travail et culture, ele se tornou uma espécie de meu pai adotivo e posso dizer que devo a ele tudo que me aconteceu de bom a partir daí. Bazin me ensinou a escrever, corrigiu e publicou meus primeiros artigos no Cahiers Du Cinema, levou-me progressivamente até a direção.”

 Aos 18 anos, por motivos desconhecidos, Truffaut se alista no exército e se afasta do cinema (não inteiramente, lia artigos e acompanhava de longe os acontecimentos). Quando retorna, o Cahiers du cinéma já existe e André Bazin o ajuda a ingressar na revista como crítico. Foi durante o período do Cahier que Truffaut escreve os artigos defendendo o cinema autoral e conhece nomes importantes que iriam se tornar seus amigos e companheiros da Nouvelle Vague, Chabrol, Rohmer, Godard, Rivette…

Em 1959, Truffaut, realiza seu primeiro filme, Os incompreendidos. Os incompreendidos, é um filme extremamente auto-biográfico baseado na infância de Truffaut, Antoine Doinel, seu alter-ego, é vivido por Jean-Pierre Léaud , ator com quem o cineasta realizou diversos filmes, tornando-se um dos rostos da Nouvelle Vague. Antoine Doinel tornou-se um personagem célebre, ganhando uma série de filmes, onde não só a vida de Truffaut foi retratada, como a de Léaud que, pode-se dizer, cresceu diante das câmeras. Truffaut e Léaud tinham uma relação amigável de admiração mútua, inclusive eram semelhantes e alguns os tomavam como pai e filho.

   Depois de Os incompreendidos e seu enorme sucesso, Truffaut fez inúmeros filmes, nunca tendo parado também de escrever sobre cinema. Definir quais filmes são imperdíveis é impossível, no entanto, alguns títulos se destacam O último metrô, Jules e Jim, O homem que amava as mulheres e A Noite Americana (filme que deu a Truffaut um Oscar).

 “Fazer um filme é melhorar a vida, organizá-la à sua maneira, é prolongar as brincadeiras de infância, construir um objeto que é ao mesmo tempo brinquedo inédito e um vaso onde disporemos, como se tratasse de um buquê de flores, as idéias que temos em determinado momento ou de forma permanente. Nosso melhor filme talvez seja aquele em que conseguimos exprimir, voluntariamente ou não, ao mesmo tempo nossas idéias sobre a vida e nossas idéias sobre o cinema.”

  Truffaut, para mim, foi não só um cineasta, como um homem, honesto, sensato e otimista (não é à toa que digo que a Natasha vai ser ele quando crescer). Construiu sua vida inspirado por uma paixão, foi assim feliz, tendo ainda nos deixado um legado de filmes e textos imortais. Durante sua carreira como diretor, ele procurou fazer filmes que melhorassem a vida das pessoas, justamente porque foi nos cinemas que encontrava um sentido para se viver e, sem dúvida, os filmes de Truffaut tornam o mundo mais agradável, nos dão prazer.

 (Trechos retirados de Os Filmes da minha vida e O prazer dos olhos).

Texto reproduzido do blog: puleipelajanela.wordpress.com

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