Raffaele Petrini exibe sua coleção ao Imirante.com.
Publicado originalmente no site Imirante, em 13/02/2016
Louco pelo cinema, fã vai de pôsteres a películas em sua
coleção
No total, Raffaele Petrini conta com mais de 25 anos como
colecionador.
Gustavo Sampaio/Na Mira
SÃO LUÍS – À primeira vista, um apartamento pareceria ser um
cenário comum. Sendo de um cinéfilo, a situação muda. Os sofás, as paredes,
decorações e tudo mais ao redor deixam de ser comuns até que a primeira viagem
se inicie: ir de Francis Ford Coppola a Christopher Nolan dura menos que
qualquer trailer, mas vale a melhor das pipocas. Italiano, que mora em São Luís
há dez anos, Raffaele Petrini reúne em duas residências distintas uma coleção
de milhares artigos relacionados ao mundo da sétima arte. E sem previsão de
desfecho.
“A primeira lembrança que eu tenho na vida é dentro de uma
sala de cinema”, comenta Petrini ao relembrar o feixe de luz que marcou a
sessão de Cinderela, aos quatro anos. A segunda mais marcante viria na mesma
época, com o primeiro VHS: Dumbo, clássico da Disney. A partir daí, a “fome”
por cinema apareceu – e nunca mais saiu. “Tudo começou com as fitas da Disney.
Eu era uma criança com zelo em guardar tudo juntinho, em ordem (...). [Eu] Não
era aquele menino que guardava dinheiro para comprar roupa. Passei toda a minha
adolescência comprando DVD. Eu deixava de ir pra show e festa para comprar DVD.
Era doente”, brinca.
Minha preocupação quando criança não era jogar bola, era ver
o novo filme do DeNiroRaffaele Petrini
Outra coleção iniciada nos tempos de infância foi a de
revistas de cinema – fruto do presente de uma tia. Com a leitura, a “doença”
começava. “Virou minha obsessão. (...) Em 1998,eu comprei meu primeiro DVD, em
dezembro”, lembra Petrini ao referir-se ao longa A Lenda do Pianista do Mar, de
Giuseppe Tornatore. Atualmente, boa parte das coleções alterna-se entre dois
pontos afastados do mundo: um em São Luís, outro (o maior) na Sardenha, na
Itália.
LPs clássicos fazem parte da coleção, como as trilhas de
Dick Tracy
e a do famoso "Filme do Pelé".
Das páginas às faixas, o interesse demonstrou, com o tempo,
outra obsessão: as trilhas de cinema. A primeira delas, inclusive, foi em São
Luís, após uma compra no bairro do João Paulo, em 2000. “Fui ao João Paulo, e
lá tinha um senhor que vendia discos na rua, o ‘Seu Adriano’. Ele vendia na rua
e vendia vinil por R$ 1. A maioria de cinema ele vendia por menos de R$ 1
porque ninguém comprava. As pessoas só compravam os mais famosos, como LPs do
Roberto Carlos. Comprei, R$ 0,50, o vinil de Ultimo Tango em Paris”, comentou
Petrini. Na época, voltando para a Itália, ele iniciou a coleção de vinis.
Atualmente, a cena que inspirou uma coleção há mais de 15
anos virou motivo de “festa”. “No bar Chico discos, atualmente, eu toco uma vez
por mês as trilhas de cinema embalando a noite no bar. (...) Compro os vinis
sem pensar na discotecagem”, brincou.
Cartaz da segunda edição do projeto Cinema Analógico,
realizado em dezembro do ano passado, em São Luís.
Das centenas de itens colecionados, Petrini garante que nada
foi comprado em vão – mesmo que algumas compras sejam justificadas por um
cineasta ou ator em suas melhores fases. “Eu compro os filmes que eu gosto de
ver. Por exemplo, há dois meses, eu estava com um amigo em uma locadora que
estava fechando e vendendo tudo. Levamos 100 filmes cada, aproximadamente.
Comprei alguns filmes aleatórios, devido a uma atriz ou a um diretor (...) O
objetivo mesmo é comprar a melhor edição de um filme que está disponível”,
comentou.
Números impressionam - são mais de 2.000 títulos de DVDs e
Blu-Rays.
De suas coleções, Raffaele Petrini revela que alguns
diretores famosos a coleção já foi completada com êxito, como Quentin Tarantino
e Stanley Kubrick. Outros, porém, vai além da paixão – e é barrada na disponibilidade.
“Woody Allen eu quero ter tudo. É difícil, são muitos e poucos dão para
encontrar. [Martin] Scorcese eu gostaria de ter tudo também”.
Como um romance dos mais açucarados, Petrini já foi longe
pelo amor aos filmes. Pelo cinema, ele realizou viagens, exclusivamente, para
aumentar a sua coleção. Em São Paulo, por exemplo, foi, simplesmente, para
ampliar a coleção de vinis. Ainda que não ache exagero, o cinéfilo afirma que
existem apaixonados pela sétima arte em um “estágio mais grave” que o dele. “Muitos
filmes e discos que eu tenho eu comprei de pessoas que casaram e estavam se
desfazendo”, comentou. Questionado se um casamento o faria cometer a mesma
decisão, ele foi enfático: “Eu sempre tive sorte neste sentido”, brincou.
Artigos de cinema dominam estantes, paredes e decorações
do
apartamento de Raffaele Petrini.
Números
No total, Raffaele Petrini conta com mais de 25 anos como
colecionador. Ao todo, são mais de 500 cartazes de filmes – a maioria foi
adquirida na Sardenha. Entre DVDs e Blu-Rays, ultrapassam a marca de 2.000. Já
os VHS vão além de 700 títulos – alguns, para ele, são lendários, como a
coleção da Disney, que traz versões históricas de Fantasia, por exemplo. Vinis
superam 1.000 artigos – de cinema, ao menos 300 são de trilhas sonoras, em
destaque para a trilha não utilizada por Stanley Kubrick para Laranja Mecânica,
feita por Walter Carlos - isto sem contar outros artigos, como películas e
trilhas de novela.
Por que colecionar?
O alto número de artigos colecionados não impressiona
Raffaele Petrini ao ponto dele enxergar um limite para a coleção. Para ele, o
ato de colecionar é inexplicável e único. “Não é um acúmulo de coisas. O
colecionismo não é um acúmulo, mas juntar coisas das quais temos interesse.
(...)Tu faz um pedido de um box, e quando chega, é um dia de emoção inteira”,
comentou. Ele ressalta, ainda, que é mal compreendido entre alguns amigos, mas
que não se incomoda. “Tem gente que acha uma besteira. ‘Tem no Netflix’ é o que
eu ouço. Eu também tenho [risadas]. É impossível explicar”, acrescenta.
Texto e imagens reproduzidos do site: imirante.com
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