terça-feira, 17 de outubro de 2023

Metro Tijuca reestreia como Centímetro







Legenda da foto: Metro Tijuca reestreia como Centímetro no interior do Rio e réplica vira atração turísticaMetro Tijuca reestreia como Centímetro no interior do Rio e réplica vira atração turística - (Crédito das fotos: Marcelo Régua/Agência O Globo).

Publicado originalmente no site do jornal EXTRA, em 4 de dezembro de 2022 

Metro Tijuca reestreia como Centímetro no interior do Rio e réplica vira atração turística

Por Marcos Nunes

O barulho semelhante ao som de uma tecla de piano é a senha para que as luzes se apaguem, ao mesmo tempo em que é aberta a cortina que cobre a telona de seis metros. O que vem a seguir é uma viagem no tempo. Instalado em uma cabine, um projetor dispara imagens de trechos de filmes e de musicais antigos produzidos pelos estúdios da Metro Goldwyn Mayer, exibindo na tela a performance de astros como Frank Sinatra e Gene Kelly. Tudo isso acontece em alguns fins de semana, diante de uma plateia de turistas, numa sala do Cine Centímetro, pequena réplica do Cine Metro, que funcionou até o fim da década de 1970, na Praça Saens Peña, na Tijuca, Zona Norte do Rio.

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Mas a réplica fica fora do Rio, a quase três horas de distância da Tijuca. Com fachada exatamente igual à do prédio do Metro, o Cine Centímetro está localizado nos fundos de uma chácara, em Conservatória, distrito de Valença, na região do Médio Paraíba.

Aliás, não é só a aparência que é idêntica à do antigo cinema tijucano. Ao entrar no local, o visitante dá de cara com o mesmo ambiente que havia no passado. Logo no saguão, se depara com um manequim vestido com um uniforme de bilheteiro usado na época, um desenho do leão da Metro Goldwyn Mayer, pintado num espelho, e os lustres que eram do cinema original. Além disso, num corredor, há pelo menos oito cartazes de filmes exibidos no Metro.

É na sala de exibição do Centímetro que está a maior surpresa: luminárias, um tapete vermelho e 57 poltronas originais do cinema. Todo o material foi resgatado pelo ex-projetista, advogado e delegado aposentado Ivo Raposo. Após a demolição do edifício ocupado pelo Metro, equipamentos e objetos do cinema foram armazenados em um depósito, nos fundos do antigo Cine Condor, no Largo do Machado, na Zona Sul do Rio.

Visitas agendadas

Depois de muita conversa, Raposo conseguiu convencer o responsável a doar o acervo após um ferro-velho dizer que não se interessava pelos objetos. Apaixonado por cinema, foi ele também quem construiu e escolheu o nome da réplica. O delegado aposentado costumava frequentar o Metro Tijuca quando era jovem. E chegou, inclusive, a trabalhar como projetista (operador de cinema) nos antigos cines Santo Afonso e Bruni, ambos também localizados em solo tijucano.

— Não tinha grana para fazer um Metro, então fiz o Centímetro. O Metro tinha uns 600 lugares. Fiz um cinema de 60. Não é nem centímetro, é fração de milímetro. Fiz isso aqui por pura paixão — diz Raposo, que levou dois anos construindo o local e que não fez as contas de quanto gastou: — Fui comprando tudo aos pouquinhos.

O Cine Centímetro funciona nos fins de semana em que há demanda de turistas. As visitas são agendadas por guias de turismo, e o ingresso tem um valor simbólico, segundo Raposo, para ajudar a pagar despesas como a conta de energia do local.

A guia de turismo Edy Therezinha Noel, de 76 anos, que esteve recentemente numa sessão do Centímetro, revela o sentimento dos visitantes:

— A emoção que as pessoas sentem ao entrar no cinema é uma coisa sublime. Elas voltam no tempo. Não imaginava que alguém tivesse um amor tão grande pelo antigo Cine Metro. Teve gente que ficou com os olhos cheios d’água.

De quebra, Café Palheta

Ao lado do Metro de Conservatória, há ainda uma réplica do prédio do Antigo Café Palheta, onde tijucanos costumavam bater ponto ao sair do cinema. No local, os visitantes, além de saborear um café, podem visitar e fotografar uma exposição de projetores antigos, alguns da década de 1950. A segunda parada do turista é o Centímetro. Antes das exibições, há ainda uma palestra na qual Ivo Raposo explica como e por que construiu o local. E, é claro, não falta a tradicional pipoca.

— Quando eles (turistas) saem, tem uma carrocinha antiga de pipocas. Só que é quando saem. Não dou na entrada, porque comer pipoca dentro do cinema pode atrair bichos. A pipoca é só na hora de ir embora — repete Raposo.

Ele concluiu a construção das réplicas do Metro Tijuca e do Café Palheta em 2005. E diz que, embora o local tenha entrado para o leque de opções turísticas da região, não foi o dinheiro que o motivou na empreitada:

— Não construí isso com o objetivo de torná-lo uma atração turística, de comercializar, de ganhar dinheiro. Construí por paixão pura. Costumo dizer que eu materializei um sonho. Consegui resgatar um pedaço do principal cinema da Tijuca, que eu frequentava e adorava, amava. A memória ficou resgatada. Então, esse foi o objetivo. Se quisesse ganhar dinheiro, se a intenção fosse comercial, teria construído na beira da rua. Mas não, está no fundo do meu quintal.

Texto e imagens reproduzidos do site: extra globo com

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