domingo, 13 de dezembro de 2009

Mudou o Cinema ou mudei eu?




Setaro, primeiramente obrigado pelo comentário/depoimento, na postagem: “Fetiche (4) Sala de Projeção”. Meu caro, mudaram os dois, o cinema e você. No seu caso mudou sua sensibilidade que fica cada dia mais apurada e exigente, juntamente com sua cultura cinematográfica que, com o passar do tempo, só tende a aumentar. Quanto ao modo de ver o cinema como a sétima arte, ah, isso aí não mudou nem mudará. Setaro, como você bem diz, somos de uma época em que ir ao cinema era um evento importante em nossas vidas. Os preparativos eram um verdadeiro ritual. Já começávamos a sentir prazer só no trocar de roupa. E ao sairmos de casa para ir ao cinema, já sabíamos qual o cinema e o filme que iríamos assistir, pois tínhamos nos informado antes pelas críticas e reportagens dos jornais. Lembro que ao chegar ao cinema, verdadeiros templos, com bela decoração e iluminação, tinha todo um caminho a seguir. Primeiramente, olhar todos os cartazes que ficavam na porta do prédio, pois quando acabasse a projeção do filme, na saída do cinema, voltaria a olhá-los, para confirmar se tinha faltado na exibição alguma cena das fotos. Nessa época existiam fotos coloridas e em preto e branco, que enchiam os suportes para cartazes, sem falar dos grandes pôsteres, que eram o desejo de consumo dos cinéfilos da época. Alguns funcionários chegavam a vendê-los. Voltando à entrada do cinema, ao passar pela bilheteria, me dirigia à sala de espera para olhar os cartazes dos filmes que ainda seriam exibidos. Depois de uma passagem pela bombonière, aí sim entrava na sala de projeção, isso quando não conhecia o operador (projecionista) do cinema, pois nesse caso, com certeza daria uma passadinha pela cabine de projeção, para bater aquele papo rápido. Descia então para a sala de projeção, onde a grande tela cinemascope estaria coberta com uma cortina que em alguns cinemas era vermelha. Sentava sempre no mesmo lugar, e ficava aguardando o início da projeção, ouvindo a música ambiente, onde desfilavam os LPs das melhores orquestras da época. Pronto a sessão ia começar, a ansiedade e a emoção disparavam. Algumas luzes começavam a se apagar ao som da música característica, que todo cinema tinha. Era o seu prefixo, acompanhado das três badalas do gongo, para aos poucos abrirem-se as cortinas... Hoje meu caro Setaro, frio e sem emoção, tudo é tão automático. Como você costuma dizer, não se vai mais ao Cinema e sim ao Shopping. O filme é escolhido na hora, sem saber direito o que se vai assistir, para depois ser logo esquecido. Mudou sim, Setaro, o comportamento das pessoas, por lhes faltarem uma cultura cinematográfica, e por verem no cinema mais um passa tempo e diversão, dentre tantas outras oferecidas pela tecnologia. Hoje, assiste-se ao filme pelo celular, na palma da mão. É, meu amigo, mais importante que o filme é a pipoca e a curtição da turma.

Armando Maynard

5 comentários:

André Setaro disse...

Armando,

Uma honra ter uma resposta assim tão pormenorizada, tão exata, que reproduz a magia do se ir ao cinema nos bons tempos que não voltam mais.

Cenas de Cinema disse...

Taí uma coisa que faz falta realmente nos dias de hoje: essa cultura de cinema.

Hoje em dia, a falta de uma ligação maior com o sétima arte e com uma facilidade tão grande de acesso aos filmes (em qualquer lugar, como você disse) fazem as pessoas não se comportarem mais na sala de cinema.

Para elas, tudo parece uma extensão da sala de suas casas, onde assistem filmes conversando alto, mexendo no computador e mandando mensagens de texto.

É muito triste!

Carlos disse...

Olá Armando. Um bom regresso depois do PC ter estado avariado. Sou duma geração mais nova, mas ainda tive a oportunidade de ter assistido a filmes num cinema na minha cidade com as características que descreve no post. Olhando para mim agora como um maior conhecedor de cinema do que o era na altura quando era garoto, sinto falta desse tipo de sala de cinema, que em boa verdade, são as verdadeiras salas de cinema. As formas de ver cinema mudaram imenso. Um abraço.

Bill Falcão disse...

Fiquei aqui pensando em "Cinema Paradiso", enquanto lia teu post, Armando!
Belas recordações!
Abraços!

Cristiano Contreiras disse...

Parabéns pelo conteudo e conceito do blog! te sigo!