Texto publicado originalmente no blog Hoje tem Cinema
Cinema Paradiso *
O filme Cinema Paradiso revela-se uma sensível homenagem à
sétima arte. Esta homenagem fica evidente nas referências aos filmes que
aparecem ao longo da história, mas também se mostra na própria vida do
personagem Salvatore, o Totó. Um menino pobre, crescendo numa pequena cidade da
Itália, sem a presença do pai que, ao que tudo indica, jamais voltará da
guerra, consegue agregar magia, aventura, romance, humor ao seu dia-a-dia, graças
a sua curiosidade e vivacidade, típicas da idade, que o levam, sempre de novo,
ao cinema da cidade.
Mesmo crescendo cercado por repressões das principais
instituições da sociedade – a Escola, a Igreja e a família – Totó se mostra uma
criança inconformada, burlando regras na escola, indo contra as ordens da mãe,
que o proíbe de frequentar o cinema, e achando a maior graça do padre da cidade
que censura descaradamente todos os filmes, assistindo um por um e determinando
quais cenas devem ser cortadas. Totó vai também contra a autoridade maior
dentro do próprio cinema, o projecionista Alfredo, que tenta por todos os meios
vetar seu acesso à sala de projeção. Por fim Alfredo rende-se à esperteza de
Totó e assim começa uma forte amizade que dura longos anos.
Alfredo faz as vezes de mestre e grande mentor de Totó no
que diz respeito aos seus conhecimentos e paixão pelo cinema, ao mesmo tempo em
que os dois, em muitos momentos parecem espectadores, quando não diretores, do
que bem poderia ser um filme: o dia-a-dia dentro do Cinema Paradiso. De seu
ponto de vista privilegiado, Alfredo e Totó acompanham histórias que se passam
na plateia, casais se apaixonando, pessoas enriquecendo, velhos turrões que
jamais entrarão em acordo, o esquisitão que se realiza cuspindo de cima do
balcão… personagens que por si só já renderiam bons filmes.
Salvatore cresce, e protagoniza intensamente seus momentos
nos mais variados gêneros: vive e se desilude com seu primeiro grande amor,
como num filme de romance; atua heroicamente salvando Alfredo de um incêndio,
no melhor estilo de filme de ação; e também vive seu drama ao acompanhar as
limitações de Alfredo depois do incêndio e quando segue o conselho do seu velho
mestre indo embora sem nunca olhar para trás.
30 anos depois, já estabelecido como um importante cineasta
em Roma, Salvatore resolve “olhar para trás” e voltar a Giancaldo, quando
recebe um telefonema da mãe, contando que Alfredo faleceu. É quando se depara
com todos os personagens de sua infância e com o Cinema Paradiso, tristemente
abandonado. Alfredo deixa um pacote para Salvatore. E nessa sua última decisão
de diretor, determinando quais cenas ainda deveriam ser incluídas no filme de
sua vida, é como se Alfredo estivesse dizendo a Salvatore: “viu, não há do quê
se arrepender…”
* Aline Schefler escreveu este texto.
Programa
distribuído durante exibição de “Cinema Paradiso”, no dia 10 de abril de 2012
Texto reproduzido do blog: hojetemcinema.wordpress.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário