segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Filme: "Cinema Paradiso" (1988), de Giuseppe Tornatore






Texto publicado originalmente no blog Hoje tem Cinema

Cinema Paradiso *

O filme Cinema Paradiso revela-se uma sensível homenagem à sétima arte. Esta homenagem fica evidente nas referências aos filmes que aparecem ao longo da história, mas também se mostra na própria vida do personagem Salvatore, o Totó. Um menino pobre, crescendo numa pequena cidade da Itália, sem a presença do pai que, ao que tudo indica, jamais voltará da guerra, consegue agregar magia, aventura, romance, humor ao seu dia-a-dia, graças a sua curiosidade e vivacidade, típicas da idade, que o levam, sempre de novo, ao cinema da cidade.

Mesmo crescendo cercado por repressões das principais instituições da sociedade – a Escola, a Igreja e a família – Totó se mostra uma criança inconformada, burlando regras na escola, indo contra as ordens da mãe, que o proíbe de frequentar o cinema, e achando a maior graça do padre da cidade que censura descaradamente todos os filmes, assistindo um por um e determinando quais cenas devem ser cortadas. Totó vai também contra a autoridade maior dentro do próprio cinema, o projecionista Alfredo, que tenta por todos os meios vetar seu acesso à sala de projeção. Por fim Alfredo rende-se à esperteza de Totó e assim começa uma forte amizade que dura longos anos.

Alfredo faz as vezes de mestre e grande mentor de Totó no que diz respeito aos seus conhecimentos e paixão pelo cinema, ao mesmo tempo em que os dois, em muitos momentos parecem espectadores, quando não diretores, do que bem poderia ser um filme: o dia-a-dia dentro do Cinema Paradiso. De seu ponto de vista privilegiado, Alfredo e Totó acompanham histórias que se passam na plateia, casais se apaixonando, pessoas enriquecendo, velhos turrões que jamais entrarão em acordo, o esquisitão que se realiza cuspindo de cima do balcão… personagens que por si só já renderiam bons filmes.

Salvatore cresce, e protagoniza intensamente seus momentos nos mais variados gêneros: vive e se desilude com seu primeiro grande amor, como num filme de romance; atua heroicamente salvando Alfredo de um incêndio, no melhor estilo de filme de ação; e também vive seu drama ao acompanhar as limitações de Alfredo depois do incêndio e quando segue o conselho do seu velho mestre indo embora sem nunca olhar para trás.

30 anos depois, já estabelecido como um importante cineasta em Roma, Salvatore resolve “olhar para trás” e voltar a Giancaldo, quando recebe um telefonema da mãe, contando que Alfredo faleceu. É quando se depara com todos os personagens de sua infância e com o Cinema Paradiso, tristemente abandonado. Alfredo deixa um pacote para Salvatore. E nessa sua última decisão de diretor, determinando quais cenas ainda deveriam ser incluídas no filme de sua vida, é como se Alfredo estivesse dizendo a Salvatore: “viu, não há do quê se arrepender…”

* Aline Schefler escreveu este texto. 
Programa distribuído durante exibição de “Cinema Paradiso”, no dia 10 de abril de 2012

Texto reproduzido do blog: hojetemcinema.wordpress.com

Nenhum comentário: