domingo, 1 de fevereiro de 2009

Cabine de Projeção (4)


A chegada de filmes para estréia nos cinemas de rua nas pequenas cidades, na década de 60, era precedida de grande expectativa, pois os filmes demoravam a chegar, vindos de outras praças (cidades) onde foram exibidos, geralmente grandes centros. Nessa época, não se fazia muitas cópias como hoje, onde filmes de grande sucesso são exibidos, simultaneamente, em várias capitais, com lançamentos nacionais ou até mundiais, chegando a ter até mais de trezentas cópias, vindas direto das distribuidoras para os cinemas, novinhas, sem arranhão algum, sendo comum os multiplexs exibirem mais de uma cópia - uma legendada e outra dublada. Os cinemas das pequenas cidades, tinham que aguardar que o filmes esgotasse o interesse dos espectadores dos grandes centros, e, enquanto isso não acontecia, o cartaz com a papeleta de “BREVE” se eternizava. Pessoas conhecidas, às vezes, falavam que já tinham assistido a esses filmes, há muito tempo, no Rio de Janeiro ou em S.Paulo. Os filmes vinham, de ônibus, em sacos cujo conteúdo era de seis a oito latas de filmes, cartazes, fotos muito comuns na época, em cores e preto e branco, traillers, uma cópia do Certificado de Censura, que constava do inicio de todo filme, inclusive dos Cines Jornais que traziam imagens de fatos ocorridos em todo o país e, no final, um jogo de futebol de destaque. Apesar do noticiário ser desatualizado, era importante por causa das imagens inéditas, pois muitas cidades ainda não possuíam televisão. Chegando as latas de filmes, o projecionista (operador), na cabine, REVISAVA o filme na enroladeira, para evitar surpresas desagradáveis quando da sua primeira exibição, pois além das cópias virem arranhadas - já tinham sido rodadas por várias vezes em projetores sem a devida manutenção - podiam vir com emendas fracas, perfurações estragadas, ou faltando o RABICHO”, que é um pedaço de filme padrão, colocado em laboratório, quando da confecção das cópias, no início e no fim de cada rolo (parte) do filme, sendo que o do início serve de guia ao projecionista, quando for fazer a colocação da fita na engrenagem do projetor, passando pelos roletes dentados, janela, fotocélula (som), evitando que avance nas imagens (fotogramas) do inicio do filme. Estes pedaços de filme são pretos ou transparentes, com ilustrações semelhantes a um relógio, que, a medida que gira uma ilustração, aparece o NUMERADOR de 1 a 8 com avisos também do início do som em tom de “BIP”, terminando com a palavra START (começo), indicando que oito segundos após, aparece o primeiro FOTOGRAMA. Nos cinemas que ainda mantém a exibição com dois projetores, como nas cinematecas, alguns itens merecem a atenção dos operadores, como a correção de foco das lentes planas para cinemascope (hoje tudo isso é automático), nas mudanças de partes, quando da troca de projetor.



Armando Maynard

15 comentários:

Daniel Savio disse...

Interessante, pois em alguns filmes eu já esse contador (na verdade, filmes que tinha algum filme rondando dentro do filme), mas não sabia para que...

Aqueles tempos deviam ser mágicos, pois basicamente, todos se reuniam para ver um filme, agora, só quem quer realmente ver algo numa tela grande (pois na faixa de uns quatro meses, os filmes de cinema acabam chegando em DVD nas lojas).

Fiquem com Deus, menino Armando e menina Lygia.
Um abraço.

Júlia de Miranda disse...

Adorei os textos e o blog! Tenho uma paixão enorme pelo cinema, principalment em fazer cinema! Viciante! adorei! volto sempre!

bjo

Anônimo disse...

a cada nova geracao tecnologica, acredito, o cinema perde um pouco de sua magia inicial, é uma pena quando vejo filmes - inicialmente pensados para grandes salas - sendo projetados em telas de computador ou iPhones. Isso dos cinemas antigos demonstra um pouco a banalizacao da sétima arte hoje em dia...

Anônimo disse...

Amigo(a),
Indiquei você para receber o selo “Troféu do Amigo”, um reconhecimento muito especial que eu gostaria compartilhar com todas as pessoas amigas e blogueiras ,que fazem parte do meu universo virtual. Espero que goste da iniciativa. Passe lá no meu blog e pegue o selo.
Um grande abraço,

Marco disse...

Ê Armando... Eu adoro ler estes textos que relembram os tempos em que eu via os filmes em poeiras, como chamavam, com cadeiras de madeira, sem ar condicionado, com cartazes de filmes com legenda "Breve" e fotos ao lado do cartaz. Isso para mim são antigas ternuras e das boas! Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.

Moacy Cirne disse...

Oi, Marco, do Antigas Ternuras, recomendou-me o seu blogue. Com prazer, deliciei-me com suas postagens. Para mim, tudo isso faz parte da miinha vida. Um abraço.

lpzinho disse...

Olá Armando...
Estou até com vergonha de tanto tempo q não apareço por aqui hehehe
Estava lendo seu post e é siplesmente fascinante isso td.
Me lembro de ter feito um evento num shopping do interior e que tinha sala de cinema. Apesar de ser algo já mais moderno, fiquei encantado por conhecer os bastidores de uma sala de projeção.. o rolo gigante tipo sem fim.... aliás, nem vou tentar entrar em detalhes pq estaria cometendo sucessivos enganos e seria heresia tentar escrever sobre algo q Vc conhece tão bem e tanto! Mas o cinema é isso né, na tela o fascínio, o encantamento... mas por trás, da produção à exibição, da pipoca ao comentário após uma sessão.. td é mágico e precioso demais!!
Parabéns mais uma vez pelo conteúdo do seu blog e pelo texto sempre inteligente!
Abraços e sucesso!!

guilherme camara disse...

Muito legal a sua descrição da cabine de projeção. Isso acontecia em todo o Brasil. Veja um pouco a história de exibição cinematográfica desde 1919.
Veja o site www.cultural.vidavalorizada.com.br ou o blog
www.cineteatrovitoria.blogspot.com.br

Acho que deveria existir uma Associação Nacional de cinemas antigos para discutir formas de preservar a memória desses espaços bem como apoio e orientação para projetos de preservação ou de utilização desses espaços.
Parabéns pelo blog estarei acompanhando de perto...

ARMANDO MAYNARD disse...

Recebí do Ivo Raposo, proprietário do Cinema Centímetro, o seguinte e-mail:
Caro Armando
Ví com entusiasmo seu blog e constato que voce, como eu, é contaminado
pelo vírus do cinema. Minha história é longa pois já em 1959
associei-me ao sindicato dos operadores cinematograficos do Rio de
Janeiro, ocasião em que, aos 13 anos de idade já era operador de um
"poeira" pertencente a igreja de Santo Afonso, na Tijuca, bairro do
Rio onde nascí e conviví com o entorno de uma praça que abrigava mais
de 10 cinemas. Era minha Disneyworld. Acho que apenas pessoalmente
poderemos colocar nossa conversa em dia pois ficaria uma semana
escrevendo não só a respeito do que possuo como pelo que viví, em
materia de cinema. Seu blog lembrou-me de quando, por volta dos 10
anos de idade, em uma pequena cidade do interior do Rio, aguardava a
chegada do trem (Maria Fumaça), corria para o vagão de carga para
apanhar a maleta de 16mm e, na loja de ferragens do proprietário do
cineminha, pintava a tabuleta do filme recem chegado. As 20;30, após o
terceiro toque de uma estridente sirene, começava a sessão (e a
algazarra natural).
Sugiro que voce entre no site www.conservatoria.com.br e no link "o
que fazer" clicar no cinema centimetro. Lá estão algumas fotos. Se
insuficientes, melhor aguardar sua visita e sua maquina fotografica
PS - No seu blog -Projecionista- o projetor é identico aos dois que
tenho instalado no CentiMetro Tijuca (Simplex XL). Alias , ainda hoje
muitos cinemas pelo mundo operam com esses excelentes projetores
Meu celular: (21) 9997 62 23
Aguardo contato para visita
Forte abraço e parabens pelo Blog (Pessoas como nós mantemos a memoria
do cinema e principalmente agora precisamos mante-la viva, ante a
ameaça do digital)
Ivo Raposo

Nirton Venancio disse...

Caro Armando, obrigado pelo visita ao meu blog.
Estou contente em lhe conhecer, em saber do seu trabalho pela preservação da memória dos cinemas de rua.
Seu blog é muito bom, nos faz entrar na magia do cinema.
Sobre o Seu Vavá tenho pouco contato com ele. Sei que continua mantendo o Cine Nazaré em Fortaleza depois de muita luta. Sou cearense, moro em Brasília, e minha lembrança viva do Seu Vavá era quando criança, na capital cearense. Como sempre vou a Fortaleza tenho planos de na próxima viagem procurá-lo pra gravar uma entrevista. Faço cinema e pretendo ir juntando material sobre esses cines de rua pra um projeto de documentário. Este seu blog muito me ajudará.
Ano passado o jornal Diário do Nordeste publicou uma matéria sobre Seu Vavá, o link: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=516550
Um grande abraço, e não percamos o contato.

Marcelo Henrique Marques de Souza disse...

Essa discrepância entre os centros e o interior é bem ilustrativa, Armando. Faz pensar inclusive sobre a ideologia do acontecimento relevante e sobre determinadas influências contemporâneas: Será que haveria aumento de violência social no interior se não houvesse a simultaneidade ideológica de hoje em dia? Caso a se pensar...

Abração

Bill Falcão disse...

Grandes lembranças, Armando!
De um tempo em que ir ao cinema era um verdadeiro culto!
Aquele abraço!

Carlos disse...

Muito interessante. Antigamente era bem mais giro. Esta tb é a magia do cinema.

Saco de Bagulhos disse...

Que bacana esse blog! Sou amante do cinema, e fiquei fissurado. No meu blog, brinco de resenhista - não é pra menos! rs
Deu saudade de "Cinema Paradiso" lendo esta postagem!
Parabéns.
Abraço

Alda Inácio disse...

Amigo armando, você me faz lembrar do passado quando eu tinha 14 anos e frequentava o cinema lá em Sapucaia...era grátis para mulheres só nas quartas feiras. As vezes eu não tinha com quem ir e apurrinhava minha mae pra me levar, coitada.
Deixo um beijo e boa semana.
Alda