Texto publicado originalmente no site Críticos, em 20.02.2013
O Drama da Projeção
Por Maria Silvia Camargo
Um relato pessoal do suplício que tem sido ir ao cinema no
Rio de Janeiro, por conta de problemas na exibição.
Trata-se de um fim de festa. Em 31 de janeiro deste ano o
Minc anunciou que os cinemas administrados por empresas brasileiras finalmente
entrariam no século XXI e serão todos digitalizados. Ufa. Realmente: as cabines
de projeção continuam no século passado, para prejuízo do espectador. Mas não
se trata só de trocar de equipamento. Se os exibidores nacionais querem
continuar competitivos será preciso muito investimento.
Sou fiel a uma sala de cinema. Tenho tudo: DVD, blue-ray, ar
condicionado e tudo o mais. Mas aquela sala escura, o encontro no saguão antes
de entrarmos... é diferente. Cresci assim e frequento o cinema pouco mais que a
média da maioria dos moradores da ZS do Rio, onde vivo. Procuro ir uma vez por
semana (ou a cada 10 dias) desde 1978. Façam os cálculos. Óbvio que sofre-se
muito. A cada três filmes encontro uma projeção ruim, uma média e uma boa. Nem
reclamo quando a exibição é mais ou menos, o olho já acostumou. Mas me dou ao
trabalho de levantar falar com o gerente ou o projecionista quando ele erra a
janela e o microfone vaza ou o filme pára ou fica sem som muito tempo.
Também, por ser jornalista, tenho um pouco mais de
informação sobre o que se passa no setor. Sei que projetar filmes é uma
profissão que se aprende na prática e paga mal; sei que a cada Festival os projecionistas
têm que se virar com máquinas alugadas de todos os tipos de tecnologia; entendo
um pouco a equação preço do ingresso X aluguel de salas etc. etc. mas se o Minc
vai investir em digital, que se criem recursos para que o exibidor pague melhor
o projecionista e o treine. Invista em gente que possa receber aí filmes com
captação de som direto; digitais; assim como também em 35mm. Não entendo de
tecnologia, só sei pedir, como espectadora: preparem-se para o futuro. A
captação de filmes está mudando, é feita de várias formas, então a mentalidade
de quem tem sala de cinema têm que mudar também. Se o cinema vai conviver com
todas as outras mídias – e eu sei que vai – é preciso que ele se renove.
Aqui no Rio de Janeiro, para quem mora na Zona Sul e não quer
ir longe para assistir a um filme, a coisa está difícil. Fiz um pequeno diário
este verão das sessões que fui ou a que amigos foram. Vale notar que não
frequentei só cadeias de empresários nacionais.
Quarta, 16 de janeiro. Argo , na sala 3 do Estação Rio 3. A
projeção parou duas vezes pois não havia som. Quando ele entrava, estava baixo.
Quinta, 17 de janeiro. O Som ao Redor. Não lembro a sala,
Unibanco Arteplex. Projeção boa.
Sexta, 18 de janeiro. Amor, sala 2 do Estação Sesc Ipanema.
Projeção boa.
Domingo, 3 de fevereiro. Os Miseráveis, sala 6 do Unibanco
Arteplex. Cinema lotadíssimo, filme recém estreado. Projeção com manchas lilases na tela e som
chiado.
Quarta, 6 de fevereiro. O Lado Bom da Vida, sala 2 do
Cinépolis Lagoon. Filme super escuro! Falamos com o projecionista, ele se
desculpou pois o projetor estava com uma luz queimada. E assim ficou.
Sábado, 16 de fevereiro. As Sessões. Sala 3 do Vivo Gávea.
Som ruim. O som desta sala é sempre sofrível ao contrário da sala 5 do mesmo
cinema, que é bem melhor. Vai saber.
Sábado, 16 de fevereiro. Nota de Rodapé. Sala 3 do Estação
Rio 3. Projeção com pulos de imagem...
Texto reproduzido do site: criticos.com.br
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