terça-feira, 7 de agosto de 2018

O glamour do cinema de rua...

Almiro Pereira, conhecido como Bilo, foi projetista do Auto Cine
Foto: Rafaela Martins / Agencia RBS

Cinerama resgata o charme dos cinemas de rua em Balneário Camboriú

Festival que reúne filme de diversos países...

Por Dagmara Spautz

O burburinho dos cinéfilos em frente ao Cine Itália resgatou, nos últimos dias, a aura dos antigos cinemas de rua em Balneário Camboriú. Durante o festival Cinerama.BC, que termina neste domingo, o espaço de 700 lugares - remanescente da sétima arte na Avenida Central, uma das principais vias de Balneário Camboriú - voltou a receber o público e a se encher com o barulho dos projetores. Uma saudosa lembrança para quem viveu os tempos áureos do cinema, quando as sessões eram mais do que diversão.

- O cinema de rua tinha glamour. Todo mundo colocava a melhor roupa, era um acontecimento social - diz Fernando Delatorre, administrador do Cine Itália e filho de Eduardo Delatorre, pioneiro das salas de cinema na cidade.

Contador por formação, Eduardo encontrou na sétima arte sua maior paixão. Tanto que fez apenas duas grandes viagens na vida: uma para conhecer os estúdios de Hollywood, nos Estados Unidos, e outra para a Europa, para passear pelos locais onde foram filmados os grandes clássicos do faroeste.

Em 1967, três anos após a emancipação de Balneário, Eduardo inaugurou o primeiro cinema do município - o Cinerama, em plena Avenida Brasil. Dotada de alta tecnologia para a época, com capacidade para transmitir películas em 70 milímetros, a sala era ponto de encontro para políticos de todo o Estado e também para beldades como Vera Fischer, que frequentava o Cinerama aos fins de semana. Foi ali, também, que Balneário recebeu a primeira visita oficial de um presidente, João Batista Figueiredo.

Empolgado com o sucesso, Eduardo construiria ainda dois outros cinemas em Balneário, o Cine Itália, aberto em 1984, e o Auto Cine, de 1973 -  um dos únicos cinemas drive-in do país, na Avenida do Estado.

Decadência

Os negócios foram bem até que a popularização das TVs e dos aparelhos de videocassete, além da chegada das primeiras salas de cinema aos shoppings, passaram a inviabilizar os cinemas de rua. Em Balneário, o primeiro a fechar foi o Cinerama, por falta de público. O prédio deu lugar a um centro de compras, que mantém o nome do antigo cinema.

Três anos depois, o Auto Cine transmitiu sua última sessão. Sobrou apenas a gigantesca tela, que tinha a altura de um prédio de seis andares e acabou demolida no ano passado.

O Cine Itália permaneceu aberto em homenagem a Eduardo Delatorre, que morreu em 2003. Hoje, funciona a maior parte do tempo como centro de eventos. Mesmo sem esperanças de ver o cinema de rua funcionando outra vez, devido à chegada de novas mídias para transmissão da sétima arte, vez ou outra Fernando faz uma sessão exclusiva, para matar a saudade.

- Como os equipamentos não podem ficar parados, reunimos de vez em quando alguns amigos e exibimos filmes, como Cinema Paradiso. Acho que a ideia de trazer o Cinerama.BC para o Cine Itália foi uma iniciativa feliz porque é uma forma de resgate disso tudo. Quando se assiste a um filme no cinema, a emoção é outra.

Museu

Para eternizar as memórias do cinema em Balneário, Fernando Delatorre pretende inaugurar, em 2014, um Museu da Imagem e do Som. O prédio, na Rua 700, está sendo construído com recursos do empresário, e vai abrigar as cerca de 400 peças que ele mantém - entre projetores de cinema, câmeras fotográficas e equipamentos de som.

Delatorre revela pelo menos uma das surpresas que o museu trará ao público: uma réplica do carro protagonista de Se Meu Fusca Falasse, de 1968. O carro está pronto, aguardando a abertura do museu.

"Tinha esperança de que ia voltar"

Aos 70 anos, Almiro Pereira, o Bilo, lembra como se fosse hoje a última sessão do Auto Cine, em Balneário Camboriú. Era ela quem cuidava das máquinas e projetava na tela os filmes, que embalaram moradores e turistas por mais de 20 anos. Naquele sábado à noite, em 1998, Bilo foi tomado pela tristeza. Durante meses, continuou voltando para trocar o óleo das máquinas de projeção - até que se convenceu de que era o fim.

- Minha esperança era que voltasse a funcionar - diz.

A história dele com o cinema começou na adolescência, quando trabalhou na distribuição de cartazes do Cine Rio Sul, em Rio do Sul. Um dia, pediu para ver de onde saíam as imagens que apareciam na tela e começou a aprender a projeção.

Bilo chegou a Balneário em 1978, quando começou a trabalhar no Auto Cine. Após o fechamento, ajudou nas projeções do Cine Itália, temporariamente, e trabalhou como motorista para Eduardo Delatorre, pioneiro das salas de cinema em Balneário, por mais 10 anos.

- Ainda vou no cinema às vezes, mas não é mais a mesma coisa.

Texto e imagem reproduzidos do site: osoldiario.clicrbs.com.br

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