terça-feira, 6 de agosto de 2019

Artista que pintava cartazes para os cinemas cariocas...

A. Silveira levava até um mês para criar painéis como o do Odeon 
Foto: Guillermo Giansanti / Agência O Globo

Publicado originalmente no site do jornal O GLOBO, em 18 de agosto de 2013

Artista que pintava cartazes para os cinemas cariocas tem vida relembrada em curta

Conheça Antonio Henrique Silveira, que pintava paineis de cinemas como Pathé, Odeon, Palácio, Roxy e Tijuca Palace

Por Cláudia Amorim

RIO — Antonio Henrique Silveira pintou de Ben-Hur ao gorilão King Kong; de “A noviça rebelde” a Bond, James Bond. Isso quando, em tempos mais românticos de Hollywood, os cartazes acompanhavam a grandiosidade cinematográfica. Era uma época em que Liz Taylor, Rex Harrison e Richard Burton estampavam painéis monumentais nas fachadas dos tradicionais cinemas cariocas que exibiam “Cleópatra” (1963). E Clark Gable mostrava, com as mãos em Vivien Leigh, que tinha pegada, comprovada em cartazes de seis metros de largura que anunciavam “...E o vento levou” (1939). Parte dessa história virou filme. E vai ser contada em 18 minutos no curta “Em cartaz”, de Fernanda Teixeira.

Rian, Pathé, Odeon, Palácio, Olinda, Azteca, América, Roxy, Art-Palácio, Coral, Scala, Tijuca Palace, muitos foram os cinemas — em grande parte, extintos — que, desde os anos 50, ostentaram os painéis pintados por Antonio Henrique Silveira, hoje com 86 anos. (Filmes como “...E o vento levou” eram reexibidos anos depois de lançados).

— Cheguei até ele por intermédio do meu tio, Sandro Donatello, que é pintor, e resolvi filmar essa história — conta Fernanda, que já exibiu um filme seu no festival de Cannes, “A espera” (2008).

Atualmente, A. Silveira (como o protagonista do filme assina) pinta, em sua sala na garagem subterrânea do Shopping dos Antiquários, em Copacabana, trabalhos como paisagens e naturezas-mortas, que são vendidas em leilões e lojas de quadros decorativos. Mas volta e meia também reproduz um Charles Chaplin aqui, uma Marilyn Monroe ali...

— Faço isso para recordar — explica o pintor, que tem na cabeça as exatas feições de Charles Bronson. — Sei de cor, de tanto que fiz cartaz de filme com ele.

As curvas da Dama do Lotação e da Dona Flor de Sônia Braga e os traços de “O cangaceiro” também passaram por seu pincel. Em mais de 40 anos dedicados ao ofício, A. Silveira experimentou os detalhes mais curiosos do trabalho artesanal.

— Antes, não havia projetor, eu dividia a foto em quadrados e reproduzia em escala maior, tudo à mão. Depois, comprei um, para usar a imagem projetada. Mas, mesmo assim, se errasse, começava tudo de novo. Três fachadas levavam um mês. Pintei Os Trapalhões, John Wayne, Mastroianni, Sean Connery, E.T., Jurassic Park... Fiz esse trabalho até os anos 90 — relembra Silveira, que teve, como marco da virada na carreira, o advento da plotter (impressora para grandes dimensões). — Isso tudo que fiz foi antes do computador. Mas também antes houve baques na atividade, como quando o Collor fechou a Embrafilme.

No mês que vem, a história chega ao Nordeste, no Cine Ceará e no Festival Iberoamericano de Cinema de Sergipe. No Rio, o filme deve passar em novembro. É torcer para que, na ocasião, Silveira transforme a si mesmo num vistoso cartaz.

Texto e imagem reproduzidos do site: oglobo.globo.com

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