A. Silveira levava até um mês para criar painéis como o do Odeon
Foto: Guillermo Giansanti / Agência O Globo
Publicado originalmente no site do jornal O GLOBO, em 18 de agosto de 2013
Artista que pintava cartazes para os cinemas cariocas tem
vida relembrada em curta
Conheça Antonio Henrique Silveira, que pintava paineis de
cinemas como Pathé, Odeon, Palácio, Roxy e Tijuca Palace
Por Cláudia Amorim
RIO — Antonio Henrique Silveira pintou de Ben-Hur ao gorilão
King Kong; de “A noviça rebelde” a Bond, James Bond. Isso quando, em tempos
mais românticos de Hollywood, os cartazes acompanhavam a grandiosidade
cinematográfica. Era uma época em que Liz Taylor, Rex Harrison e Richard Burton
estampavam painéis monumentais nas fachadas dos tradicionais cinemas cariocas
que exibiam “Cleópatra” (1963). E Clark Gable mostrava, com as mãos em Vivien
Leigh, que tinha pegada, comprovada em cartazes de seis metros de largura que
anunciavam “...E o vento levou” (1939). Parte dessa história virou filme. E vai
ser contada em 18 minutos no curta “Em cartaz”, de Fernanda Teixeira.
Rian, Pathé, Odeon, Palácio, Olinda, Azteca, América, Roxy,
Art-Palácio, Coral, Scala, Tijuca Palace, muitos foram os cinemas — em grande
parte, extintos — que, desde os anos 50, ostentaram os painéis pintados por
Antonio Henrique Silveira, hoje com 86 anos. (Filmes como “...E o vento levou”
eram reexibidos anos depois de lançados).
— Cheguei até ele por intermédio do meu tio, Sandro
Donatello, que é pintor, e resolvi filmar essa história — conta Fernanda, que
já exibiu um filme seu no festival de Cannes, “A espera” (2008).
Atualmente, A. Silveira (como o protagonista do filme
assina) pinta, em sua sala na garagem subterrânea do Shopping dos Antiquários,
em Copacabana, trabalhos como paisagens e naturezas-mortas, que são vendidas em
leilões e lojas de quadros decorativos. Mas volta e meia também reproduz um
Charles Chaplin aqui, uma Marilyn Monroe ali...
— Faço isso para recordar — explica o pintor, que tem na
cabeça as exatas feições de Charles Bronson. — Sei de cor, de tanto que fiz
cartaz de filme com ele.
As curvas da Dama do Lotação e da Dona Flor de Sônia Braga e
os traços de “O cangaceiro” também passaram por seu pincel. Em mais de 40 anos
dedicados ao ofício, A. Silveira experimentou os detalhes mais curiosos do
trabalho artesanal.
— Antes, não havia projetor, eu dividia a foto em quadrados
e reproduzia em escala maior, tudo à mão. Depois, comprei um, para usar a
imagem projetada. Mas, mesmo assim, se errasse, começava tudo de novo. Três
fachadas levavam um mês. Pintei Os Trapalhões, John Wayne, Mastroianni, Sean
Connery, E.T., Jurassic Park... Fiz esse trabalho até os anos 90 — relembra
Silveira, que teve, como marco da virada na carreira, o advento da plotter
(impressora para grandes dimensões). — Isso tudo que fiz foi antes do
computador. Mas também antes houve baques na atividade, como quando o Collor
fechou a Embrafilme.
No mês que vem, a história chega ao Nordeste, no Cine Ceará
e no Festival Iberoamericano de Cinema de Sergipe. No Rio, o filme deve passar
em novembro. É torcer para que, na ocasião, Silveira transforme a si mesmo num
vistoso cartaz.
Texto e imagem reproduzidos do site: oglobo.globo.com
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